Deodoro: a espada contra o Império Tomo 1 – O aprendiz de feiticeiro (da Revolta Praieira ao Gabinete Ouro Preto)

funcionando é o arrocho eleitoral". Antes, demonstrara que um incidente de tal ordem não podia justificar medidas de exceção, historiando a enorme série de atentados, bem mais graves, contra a rainha Vitória, sem que a Inglaterra tivesse conhecido formas de opressão. Depois, sustenta que é lícito a qualquer cidadão fazer o que o edital proíbe em seu primeiro parágrafo: "Os vivas à República são uma forma natural, decente, pacífica, da expressão do pensamento. Eliminá-los é mutilar a palavra pública, assim como autorizar as reuniões populares, vedando-lhes a palavra, é aviltar a nação, destruindo; um órgão de solidariedade essencial, onde quer que o povo não for um estúpido rebanho. O código comina penas à sedição, aos movimentos sediciosos, às organizações sediciosas, às tentativas sediciosas. E o debate oral, ou escrito, nas ruas, ou no jornalismo, não sai dessas fronteiras, dentro das quais a legalidade o santifica".

O edital, na frase de Rui, não passa de um "jogo infantil de disparates". Sustenta que "a República é uma opinião constitucional, absolutamente legítima nas raias da carta de 1824, que autoriza a reforma das nossas instituições desde os fundamentos até o fastígio, sem a mínima distinção a favor da monarquia". Afirma, vigorosamente, com o peso de sua opinião de jurista e antigo parlamentar: "A discussão da monarquia, a condenação da monarquia, a extinção da monarquia, são ideias tão lícitas, e que tanto direito legal têm à proteção das autoridades nacionais quanto a defesa, a apologia, a glorificação do trono. A Constituição põe os destinos do Estado nas mãos da soberania popular, e confere a esta o arbítrio de imprimir ao governo a forma de sua escolha, consagra evidentemente, nos limites mais amplos, a liberdade de palavra, de reunião, de propaganda, a favor da realeza, ou contra ela". Nesse momento, dá a impressão de ser destoante a voz de Quintino Bocaiúva, que escreve um longo artigo, n'O País, para dizer que o edital da polícia deve ser fielmente acatado. Mas a sua concordância é apenas uma aparência, um pretexto irônico para escrever, no título do artigo, em letras fortes, "VIVA A REPÚBLICA!" No final, do mesmo modo, diz achar compreensível que a polícia proíba que se diga: "VIVA A REPÚBLICA". A malícia popular descobre

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