Deodoro: a espada contra o Império Tomo 1 – O aprendiz de feiticeiro (da Revolta Praieira ao Gabinete Ouro Preto)

e descomunalmente, não pode iludir a ninguém que reflita sobre a situação do país e atenda aos fatos ocorridos. Os fundamentos do edital da polícia, para impossibilitar reuniões políticas ou quaisquer outras (pois que nenhuma é excetuada), não resistem à menor análise, e nem podem ser considerados ao menos sérios. Levam, ao contrário, aos espíritos a convicção de que tudo não passou de um plano assentado pelo governo para aniquilar o Partido Republicano, e com verdadeira insídia".

Aristides Lôbo escrevia vigoroso artigo, publicado simultaneamente em vários jornais, inclusive O País, no qual dizia, sob o título de "O Grito Sedicioso": "Tudo isso foi calculado. Felizmente, ninguém se iludiu com a farsa do governo áulico e no próprio estrangeiro ela foi julgada. O que acaba de ocorrer, tome nota o país, é uma lição e uma formidável advertência. Quando um governo entra por caminhos semelhantes, quando na alta governação do Estado se encontram espíritos tão subalternos, tudo é lícito recear e temer. A segurança do chefe de Estado não está nas homenagens de contrabando, impostas pela disciplina, como na Escola Militar e nas repartições públicas, vencendo-se as relutâncias ou removendo-as em nome do arbítrio; porque neste país, como talvez não se faça na própria Rússia, os servidores do Estado não prestam somente os seus serviços à nação, precisam ir além; pois deles se exige que hipotequem as suas crenças, vendam suas consciências, ao ponto de entrarem, quer queiram, quer não, nas comédias repugnantes das zumbaias inúteis e talvez prejudiciais aos homens que governam".

Pardal Mallet, em "a pedido", protesta contra a ligação de seu nome ao de Adriano do Vale, atribuindo à polícia "essa infâmia". Rui Barbosa, no longo artigo de 20 de julho, no Diário de Notícias, referindo-se "aos limites que o governo quer impor ao direito de reunião mediante o edital do dia 17", declara: "Esse ato encerra o mais grave dos erros, além de importar num aleive aos sentimentos populares, pela relação que implicitamente estabelece entre o atentado Vale e as inocentes manifestações republicanas, contra as quais se fulminam essas ameaças contraproducentes". O liberal dissidente diz adiante: "Não há que errar, pois: o que está

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