O estado de espírito da época podia ser traduzido, em meados de 1889, pela soma de parcelas da opinião nacional que, diversificadas na aparência, tendiam, no entanto, para o mesmo fim. De uma parte, os conservadores a pregar a falência do regime, sempre que não estavam no poder, que a qualquer custo desejavam; de outra parte, os fazendeiros, antigos donos de escravos, voltados contra a monarquia, por lhes ter arrebatado a mão de obra a preço vil e atribuindo a lei de 13 de maio à pressão da princesa imperial, desejosa de popularizar-se; doutra, os militares ressentidos, renovando pretextos para evitar a reconciliação com o poder civil e explodindo, a cada instante, em novas manifestações de hostilidade a este; e, ainda, os próprios liberais dissidentes, como Rui Barbosa, acusando o gabinete de seu próprio partido, mostrando que o imperador, the poor old man, "um caso de caduquez", de estado senil, já não governava e a este substituíra o conselho dos áulicos; e, finalmente, a minoria republicana, ativa, vigilante, tenaz, em crescente progresso, procurando tirar partido de todos os atritos e cisões. A imprensa republicana se compunha, então, de 74 jornais, 20 nas províncias do Norte e 54 nas do Sul. Crescera, após a abolição, o número de clubes republicanos, que somavam, à época, 237. Destes, 204 estavam localizados em São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Os 33 restantes nas províncias do Norte, especialmente em Pernambuco, de tradições republicanas que vinham de 1817. Não se podia dizer que já existisse uma consciência republicana firmemente estabelecida no Brasil. Mas haveria uma consciência monarquista? Quando se fez a independência, a adoção da monarquia, com as características de um império constitucional, fora mais um expediente para apressá-la do que fruto de uma aspiração nacional. A todas aquelas parcelas podia agregar-se, ainda, um sentimento de forte antipatia pelo príncipe consorte, o Conde d'Eu, em quem o povo via um estrangeiro que poderia, através da esposa, reger os destinos do Brasil. A guerra do Paraguai e alguns incidentes, como a Questão Christie, tinham feito vibrar intensamente a corda do nacionalismo brasileiro. Havia então ambiente para a eclosão de um surto de jacobinismo, como o que surgiria no governo de Floriano, - não para admitir-se um