Cartas da Princesa Isabel Sobre a Queda do Gabinete Cotegipe e o Dia da Abolição
Quando da queda do gabinete chefiado pelo Barão de Cotegipe, escreveu a regente:
"14 de março de 1888 - São Cristóvão.
Meus queridos e bons pais.
Acabamos de beber a sua saúde. De manhã viemos de Petrópolis diretamente para o Paço da Cidade, aí nos vestimos de grande gala, houve cortejo e um pequeno despacho e viemos para aqui, donde ainda sairemos à noite para a inauguração da Biblioteca do Liceu de Artes e Ofícios.
Mil e mil saudades!...
Suas cartas nos deram muita alegria, e a ideia da vinda em julho!!! Por aqui as saúdes também vão muito bem.
Quanto ao Ministério terão sabido pelos jornais o que houve. Os últimos tumultos muito me entristeceram. Há tempos minhas ideias divergiam das do Ministério, sentia que o Govêrno perdia muita força moral, já alguma coisa neste sentido dissera, há bastantes semanas; agora, com mais firmeza e por escrito, censurando ao mesmo tempo a polícia em grande parte do que houve; a polícia, ou antes, a atitude tomada pelas autoridades policiais há já algum tempo. Minha declaração da perda da força moral, e de que insistia pela demissão do Chefe de Polícia deu em resultado a queda do Ministério. Não me arrependo do que fiz. Mais tarde ou mais cedo o teria feito; confesso que uma surda irritação se apoderara de mim, e em consciência não devia continuar com um Ministério, quando eu, por mim mesma, sentia e estava convencida de que ele não preenchia as aspirações do país nas circunstâncias atuais. Deus me ajude e que a questão da emancipação dê breve o último passo que tanto desejo ver chegar. Há muito a fazer, mas isso antes de tudo.
Mariquinhas me deu há muitos dias a carta junto para Mamãe; breve lhe agradecerá a que mamãe lhe escreveu ultimamente, que chegou antes de ontem, e lhe fez, como sempre, tanto prazer!
Falar em alguns nomes só, tratando-se de pessoas que se interessam vivamente por meus pais, seria uma injustiça. É um côro geral; entretanto o Garcez tanto me pediu hoje que lhes beijasse as mãos pelo dia que não devo deixar de fazê-lo.