insone, cercado de almofadas. Pela manhã, parecia ter melhorado bastante. Queixava-se de cólicas, mas respirava sem dificuldade. Pediu que chamassem o médico e amigo José Félix, às oito horas da manhã, a fim de que lhe fizesse um curativo nas pernas. Vendo-o assim, sem ânsias e até sorridente, perguntou-lhe o médico:
- Por que não tomas alguma coisa? Um pouco de leite?
Fez sinal de assentimento. Veio o leite, num cálice, que levou à boca com mão trêmula. Não conseguiu engolir. Um fio branco escorreu-lhe pela barba e molhou-lhe o peito. O Dr. José Félix e o sobrinho do enfermo, Fonseca Hermes, limparam-lhe a boca. Reagindo, Deodoro pediu mais leite. Veio uma xícara e dessa vez pôde bebê-lo. Chegou nessa ocasião Joaquim Murtinho, que, apesar de desesperançado, não abandonara o doente. Escreveu algumas indicações num papel, por desencargo de consciência. Foi a sua última receita. Retirou-se, convencido que não veria mais o velho soldado com vida. Como as cólicas o afligissem, levava a mão ao ventre comprimindo-o. Além de sua esposa, de José Félix e do sobrinho, também o assistiam a irmã, dona Amélia da Fonseca, a cunhada viúva, baronesa de Alagoas, e o irmão, general e médico, João Severiano da Fonseca. Sem ânsia e sem aflição, calmo, sereno, passeava os olhos pelas pessoas presentes. De súbito, o Dr. José Félix notou singular estrabismo nos olhos do enfermo. Tomou-lhe o pulso e sentiu que a vida lhe fugia. A um sinal do médico, o general João Severiano acudiu, com uma vela, colocando-a nas mãos já inanimadas que tinham destruído a monarquia e retido por dois anos os destinos da República...
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Os irmãos, João Severiano da Fonseca e Pedro Paulino, juntamente com José Félix, vestiram o cadáver, em trajo civil, como Deodoro exigira, no seu horror a tudo quanto relembrasse as passadas glórias militares e os atos de dedicação praticados em favor da classe a que pertencera. O governo de Floriano Peixoto certamente se teria apressado