Deodoro: a espada contra o Império Tomo 2 – O galo na torre (Do desterro em Mato Grosso à fundação da República)

De Rui a Deodoro sobre a entrevista de Eduardo Wandenkolk à Gazeta de Notícias:

"Generalíssimo

Permita-me V. Ex.ª chamar mui seriamente a sua atenção para as declarações do Sr. Ministro da Marinha, publicadas na Gazeta de hoje. Essas declarações que dão como "provisórios" os atos do governo atual, especialmente no que toca a matérias financeiras, constituem um escândalo inaudito, e, se fossem tomadas ao sério, levariam a fazenda à "bancarrota" e fechar-nos-iam as portas do crédito estrangeiro, que agora, depois de tantos esforços, começam a abrir-se-nos, com tamanha glória para a República.

Se essas palavras forem ouvidas e comentadas fora do país dir-se-á que estamos entregues a um governo de doidos, e não haverá mais capitalista estrangeiro, que preste um real de sua fortuna para empresas constituídas em benefício de uma nação, onde tais coisas se praticam impunemente.

Permita-me V. Ex.ª toda a franqueza: o fato é da maior gravidade imaginável, e constitui uma ameaça à república, à ordem e à própria existência dó país.

As declarações do Sr. Ministro da Marinha sobre os assuntos internacionais, são do mesmo caráter, e tendem ao mesmo resultado.

Por mais prisioneiros que sejamos desta posição ingrata, não posso deixar de cumprir o meu dever, protestando contra tais enormidades, e dizendo a V. Ex.ª a minha opinião e a opinião de todos os homens sensatos sobre um caso, cujas consequências deixo ao espírito de V. Ex.ª medir, afirmando-lhe apenas que até hoje ainda não se perpetrou contra o Governo Provisório atentado tão grave, nem se criou contra a República perigo tão temeroso.

Sempre, com a maior veneração,

de V. Ex.ª

Cr.° e am.° dedicado e obrm.°

(a) Rui Barbosa.

7 de 7bro, 1890"

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