contraltos de uma corte senil..." Via Rui, com grande acuidade, uma prova de "estar a coroa, entre nós, reduzida a uma peça desdentada e perra na entrosagem constitucional", "nessa profusão de graças repartidas em matulagem entre os que comem e bebem no alguidar oficial". E concluía, pitorescamente, num rasgo de verdadeiro panfletário: "Esta nobiliarquia de cabala, esta fidalguia de baiuca eleitoral mostra, por mais um sintoma, que se não estamos no Baixo-império, como os liberais vociferavam ainda ontem, caminhamos para a Nápoles do rei Bomba. Somente, aqui, o soberano eclipsou-se, e é ao presidente do Conselho que cabe chegar à janela de São Cristóvão, e dizer para a gente da farândola: "Tutti son fatti marchesi". Como Rui, os republicanos ridicularizavam tal derrame de títulos de nobreza, como exemplo de corrupção e de suborno. Havia, por outro lado, rumores de que Ouro Prêto pretendia apoiar-se na Guarda Nacional, fazendo dela o sustentáculo da monarquia. Reorganizada, com armamentos modernos e largos recursos orçamentários, podia a monarquia nela firmar-se, diminuindo os efetivos do Exército, minado pela indisciplina, e talvez mesmo dissolvendo-o.
Em face dos boatos sobre a Guarda Nacional, comandada pelo Barão do Rio Apa, Rui Barbosa tampouco a poupou. Distribuiu-lhe boas bordoadas, protestando contra aquilo que os jornais já haviam caracterizado como a "coronelização" em massa, para fins políticos. Onde quer que o governo de Ouro Prêto procurasse usar de um artifício para ampliar o seu prestígio, lá estava, infatigável, atento, diabólico, implacável, o adversário indômito e indormido. Escrevia Rui que essa "instituição tão perniciosa nos seus planos, quanto ridícula no seu estado atual, é a cultura organizada desse sentimento pequenino, depressor, subserviente, que converte bons cidadãos em bonecos do executivo, a troco da posição airosa, a que os rebaixa, de soldadinhos de chumbo". E acrescenta: "A vaidade, "se não alui todas as virtudes, pelo menos a todas combale". É o que não teria esquecido por interesses passageiros um governo sinceramente liberal". Afirma Rui que "uma farda com um decreto de ministro não basta para formar um soldado, nem um miliciano. É preciso que o povo sinta pulsar sob o peito boleado e ponteado pelos botões de