Deodoro: a espada contra o Império Tomo 2 – O galo na torre (Do desterro em Mato Grosso à fundação da República)

ouro o sentimento da profissão, a bravura guerreira, ou o espírito do civismo armado". Declara que o povo do Rio de Janeiro riu, - riu em rega-bofe, em cascalhadas de arrebentar os rins e partir as ilhargas, riu como nunca se rira coletivamente nesta terra, - em face de uma parada espetaculosa, em que se exibira desajeitadamente a Guarda Nacional, e arremata esse veemente artigo, intitulado "A Patetice Nacional", com o seguinte fecho: "Acabemos, em todo o caso, por confessar que se "tudo o que distrai, e faz rir, é excelente", como queria Diderot, a Guarda Nacional é a excelência por excelência..."

O que importava, em artigos como esses, que Rui publicava no Diário de Notícias, e os de O País e do Correio do Povo, no mesmo sentido, era menos a nota de ridículo, lançada contra a instituição que Ouro Prêto preparava, para nela arrimar-se, do que a afirmação, tantas vezes repetida, de que se destinava a ser o "outro Exército", a "nova força armada", a "tropa leal à monarquia", que se substituiria à outra, a antiga, a tradicional, mas tocada pelo gérmen da rebeldia e da indisciplina...

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Os objetivos de Ouro Prêto seriam, talvez, simplesmente políticos, mas no ambiente de agitação pré-revolucionário, quaisquer que fossem os pretextos e os boatos, eram sempre bons quando atingiam aos seus fins. Administrador de capacidade já anteriormente comprovada, homem público de inatacável honradez, de uma probidade a toda prova, Ouro Prêto se perdia, no entanto, pela intransigência, pela inflexibilidade, pelo espírito rigorista. Não era homem para momento tão difícil, para tão aguda crise. Suas tentativas para ser hábil resultavam sempre em desastre. Perseguia-o a má sorte, empenhada em virar-lhe os planos pelo avesso. Exemplo disso foi a escolha de Cunha Matos, indicado, como vimos, para exercer a presidência da Província de Mato Grosso. A intenção de Ouro Prêto, - ele o confessaria, mais tarde, em seu manifesto, - era chamar Deodoro de seu desterro, fazendo-o regressar, prestigiado, à Corte. E isto porque João Alfredo, com quem conversara para saber quais,

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