Deodoro: a espada contra o Império Tomo 2 – O galo na torre (Do desterro em Mato Grosso à fundação da República)

tirava com as forças de seu comando e afirmando que "S. Ex.ª, o Sr. Coronel Ernesto Augusto da Cunha Matos assumiu o comando das armas". Assim, sem licença do governo, Deodoro abandonou Mato Grosso e só de Assunção se comunicou com o ministro da Guerra, para dar-lhe conta de que estava em viagem. Sua irritação era grande, não só pelos melindres que lhe causara a tentativa de impor-lhe uma subordinação ao coronel Cunha Matos, em que via um propósito de humilhá-lo, como ainda por verificar, claramente, que servira de joguete à política imperial.

Todos aqueles projetos de fixação de tropas, de edificação de quartéis, de construção de linhas telegráficas, de garantia das fronteiras contra o perigo de uma invasão boliviana ou paraguaia não tinham sido mais do que tênues pretextos para deportá-lo para os confins de Mato Grosso. Antes de completados seis meses que fizera a longa e penosa viagem da Corte para aquela província, fazia agora a mesma longa e penosa viagem de volta, - tudo porque os partidos monarquistas que se revezavam no poder assim o tinham caprichosamente entendido, sem olhar a despesas nem aos inconvenientes do deslocamento de uma tropa tão numerosa, ora num, ora noutro sentido!

Para aumentar-lhe o desgosto, cada vez mais acentuado, toma conhecimento, ainda em viagem, de que seu ferrenho inimigo, o senador Gaspar da Silveira Martins, beneficiando-se com a ascensão dos liberais ao poder, fora nomeado por Ouro Prêto, para a presidência do Rio Grande do Sul. Menos de um mês depois da nomeação, Silveira Martins, fiel ao pensamento que tantas vezes enunciara no Senado, - de que "sem disciplina não há Exército", - toma uma atitude enérgica em relação a dois militares. Manda desligar, a bem da ordem e da disciplina, dois professores da Escola Militar de Porto Alegre: o capitão Vespasiano de Albuquerque e o capitão Francisco Alberto Guillon, ambos amigos leais e dedicados de Deodoro.

A missão de Silveira Martins no Rio Grande do Sul, como a de Cunha Matos em Mato Grosso, a de Carlos Afonso (irmão de Ouro Prêto) na província do Rio de Janeiro, e a dos demais presidentes escolhidos pelo gabinete de 7 de junho, fora a de preparar as eleições de sorte a assegurar o

Deodoro: a espada contra o Império Tomo 2 – O galo na torre (Do desterro em Mato Grosso à fundação da República) - Página 48 - Thumb Visualização
Formato
Texto