Nessa resposta, deixa extravasar todo o seu ressentimento contra o partido do qual Cotegipe, Alfredo Chaves, Delfino Ribeiro da Luz e outras figuras detestadas pelos militares tinham passado a ser os símbolos. O repórter quer precisar bem a posição de Deodoro. Pergunta-lhe, como se não o tivesse entendido bem:
- Vossa Excelência é conservador?
- Era conservador porque só os conservadores protegeram o Exército, - explica Deodoro, justificando sua antiga posição.
Mas, logo, faz uma ressalva:
- Não a mim, porque só tive um protetor: Solano Lopez. Devo a ele, que provocou a guerra do Paraguai, a minha carreira. Era conservador, mas votei sempre nos homens que estimava. Votei em Osório, em Pôrto-Alegre, em Beaurepaire Rohan. Há três republicanos em que votaria de bom grado, três moços distintos da Província do Rio Grande do Sul: Assis Brasil, Ramiro Barcelos e Júlio de Castilhos...
Essa breve entrevista ilumina, singularmente, a análise que se procure fazer da personalidade de Deodoro e de sua conduta política. Era um conservador, declarava-se conservador, mas na realidade não obedecia a injunções, não respeitava os vínculos partidários, desprezava os candidatos do partido para votar em candidatos liberais, quando se tratava de colegas de farda, como Osório, Pôrto-Alegre e Beaurepaire Rohan!
O que falava nele, pois, não era o espírito conservador, que não o tinha, mas o sentimento de classe, a solidariedade profissional. Agora, era sensível a sua inclinação pelos republicanos por sentir que entre estes estavam os advogados mais ardorosos da classe a que pertencia. Acrescenta ainda, na singular entrevista:
- Não tenho aspirações. Com dois outros anos de vida terei chegado ao mais alto posto do Exército e cantarei no Império como galo na torre...
Uma sentença desmente a outra. Tinha uma aspiração, sim, e a enuncia sem rebuços. Seria, breve, tenente-general e, por fim, marechal de Exército, o posto máximo da carreira.