Deodoro: a espada contra o Império Tomo 2 – O galo na torre (Do desterro em Mato Grosso à fundação da República)

Cantaria no Império como galo na torre. Teria voz. Far-se-ia ouvir, como Caxias e Osório se tinham feito ouvir. É esse o seu pensamento e está ligado, como se vê, ao da vigência do regime monárquico, que até aí não pensa em destruir. Uma pergunta, ainda, do repórter do jornal paulista: e se fosse chamado para a pasta da Guerra?

- Aceitaria, com uma condição, - responde Deodoro. - É que nenhum dos meus colegas de gabinete interviria nos negócios da minha pasta. Levaria a despacho os meus decretos e, se os quisessem examinar, eu deixaria a pasta e traria o miolo...

Eis aí a entrevista, em todas as suas expressões ricas de conteúdo, em todos os seus elementos singularmente sugestivos. Cada frase, cada sentença, é um traço firme e vivo, compondo o retrato psicológico do militar cioso de sua independência, orgulhoso de sua condição e de sua carreira, incapaz de ceder, de vergar ou de transigir, mesmo que se tratasse de ascender ao Ministério da Guerra. É o homem da carta-branca, alguém que reclama o direito de deliberar sozinho, de resolver as coisas à sua maneira, e é sem dúvida esse forte individualismo, essa maneira pessoal de ver os problemas, que o tem colocado em choque com os três últimos gabinetes e que o levará aos gestos mais extremos e às situações mais irremediáveis. Explica essa entrevista brevíssima e quase esquecida tanto o homem de 15 de novembro de 1889 como o homem de 3 de novembro de 1891.

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