A milícia cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a 1850

Como é, perguntava o jornal de Evaristo, que esses senhores, que na noite de 13 diziam injúrias a quem trazia o tope nacional, procuram hoje acobertar-se com ele e não hesitam em usar a insígnia dos cabras? E responde: "Na verdade a sua insolência é-lhes toda soprada de cima, atrevem-se porque contam com a proteção poderosa; fora daí são eles os mais humildes escravos. Consta-nos que alguns dos senhores que vieram depois da Independência se dispõem para trazerem o tope brasileiro. Estes senhores devem desenganar-se de que são estrangeiros, de que o Brasil não é propriedade dos portugueses, e que eles não têm que envolver-se nas nossas questões e negócios políticos. Sejam neutros se querem ser respeitados."

Se diz verdade a carta de "um Caiapó" à redação da Astréa sobre os pés de chumbo que tentam infiltrar-se na Guarda Nacional, diz em suma que as incandescências de março e abril, longe de se aplacarem, ameaçam ainda corroer o arcabouço interno da nova ordem de coisas que tivera em mira, acima de tudo, nacionalizar a Independência. E isso em novembro, quando a ameaça já não vinha "soprada de cima" e nem se presumia contar com a proteção poderosa. A nova ordem havia sido decidida em abril no Campo de Sant'Ana, ou Campo da Honra, como chegou então a ser batizada, graças em grande parte à ação oportuna dos Lima e Silva e à inação cúmplice de Barbacena, mas graças, sobretudo, à impaciência longamente sofreada do elemento popular. É possível que D. Pedro ainda pudesse contar com algumas forças capazes de sustentar o trono cambaleante, mas as forças não se achavam à vista e nem apareceram. Em 1823, quando ainda estava em lua de mel com a nação, o monarca pôde contar com soldados, até com soldados brasileiros, para o golpe de Estado que dissolveu a Constituinte. Um brasileiro, o general José Manuel de Morais, comandou então as tropas que cercaram aquela assembleia. Mas em 1831, o mesmo general, feito ministro da Guerra, foi assistir no dia 25 de março às comemorações do aniversário da Constituição promovidas pelos liberais, que de propósito deixaram de convidar o imperador, e disse: "Pois eu vou porque sou um homem do povo."

Não parecia difícil associar a grande redução ocorrida ultimamente nos efetivos do Exército à má vontade dos homens que subiram ao poder com a Regência, onde o brigadeiro Francisco de Lima e Silva, figura de proa do regime, tinha um irmão na pasta da Guerra, contra numerosos oficiais nascidos no Reino europeu. A imputação é pelo menos exagerada, porque a maioria

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