A milícia cidadã: a Guarda Nacional de 1831 a 1850

em armas; a Guarda Nacional (1831-1850), foi o título primeiramente dado à presente obra, quando apresentada, como tese de doutoramento, à Universidade de São Paulo. O nome agora adotado, embora menos sugestivo, é igualmente válido, pois "milícia cidadã" também se chamou nossa primeira Guarda Nacional, por lembrança, se não me engano, de um dos seus mais ativos propugnadores, Evaristo da Veiga.

Não se pode negar, é certo, que à sua oficialidade se deram desde o começo certas honras e distinções, mas não significava isso a criação de um privilégio especial e de uma hierarquia nova, pois resultou da necessidade de equipará-la à oficialidade das forças de linha, que, além disso, sempre teria sobre ela a vantagem de poder ascender na carreira até o generalato. Por essa equiparação se pronunciaram expressamente militares como o brigadeiro Francisco de Lima e Silva, que se manterá constantemente fiel ao liberalismo abrilista, como também seu filho mais ilustre, que se irá ligar aos conservadores. Esse fato serve para desfazer a versão de que a Guarda Nacional foi criada para contrapor-se ao Exército e, se possível, para tomar o seu lugar. É este mais um mito que agora cai por terra. Surgida sob um governo liberal, a milícia "cidadoa" não deixará de guardar ainda por algum tempo essa marca de origem, a mesma marca de muitas das sedições que chegaram a ameaçar a unidade nacional. Mas o próprio Caxias, lembrado talvez do tempo em que foi um dos instrutores da corporação ainda incipiente, apelará, no entanto, para ela, sempre que lhe tocar combater várias dessas rebeliões provinciais, e assim reivindica a presidência das províncias sublevadas. Mesmo quando convidado por um governo liberal para comandante-chefe das operações contra os paraguaios no Rio Grande do Sul invadido, ainda insiste em tal exigência, porque só assim poderia exercer autoridade sobre uma instituição que não dependia do Ministério da Guerra. A exigência não foi atendida da primera vez, porque os donos do poder não queriam dar essa presidência a um conservador. Mais tarde, quando convidado por outro governo liberal para general-chefe contra os mesmos paraguaios, já não apresenta essa condição, que se torna prescindível desde que a guerra se trava agora em solo inimigo. E sabe-se do notável papel que teve a Guarda Nacional nessa parte da luta, quando chegou a formar, com o voluntariado nela incluído, mais de 70% das forças brasileiras de terra.

A esse tempo, já a milícia se transformara é certo, numa entidade poderosamente dominada e cerceada pelo poder

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