no todo social de seu tempo e de seu país. Como o homem nunca é o produto mecanicista de um meio, Alberto Sales não só reflete o mundo objetivo como também o cria. Por isso sua meditação retrata as complexas condições da sociedade brasileira contémporânea, institucionalizada no regime monárquico e escravagista e, ao mesmo tempo, testemunha o intento de intervenção e de transformação. Daí sua inusitada militância em absoluto contraste a uma sociedade ainda estriada das marcas do trabalho escravo e da dependência econômica dos centros consumidores de produtos primários, que ditavam além de nossas fronteiras - preços, condições e ideologias.
Certamente a obra de Alberto Sales se reveste, por vezes, de brumas utópicas sob as quais, porém, latejam ideias novas e realizáveis. O utopismo do ideólogo paulista abarcava todos os aspectos da vida nacional, pois só a reconhecia como autêntica na medida em que fosse democrática e progressista. E a democracia salesiana longe estava de ser uma ficção política, já que preconizava, coerentemente, o sufrágio universal na acepção mais ampla possível, tendo direito de voto inclusive o analfabeto, recomendando a educação para todos, compulsória e necessária, para a libertação material e espiritual do Brasil de seu tempo.
Essa confiança na decisão das reais maiorias nos seus pronunciamentos políticos, e essa esperança redentora na difusão dos saberes, não são comuns à mentalidade das classes dirigentes brasileiras, condicionadas por um passado escravocrata e aristocratizante. Para elas, somente os escóis - ilustrados ou enriquecidos - estavam em condições de comandar, cabendo ao povo - à arraia-miúda - apenas cumprir o que lhe fosse ordenado. Daí o cuidado desses escóis em impedir a difusão do ensino, como comprova, merencoriamente, a história da educação do tempo do Império, cujo apreço se voltava para as escolas de nível superior, formadoras de dirigentes, enquanto inexistiam cursos secundários regulares substituídos pelos chamados exames parcelados, com vistas apenas aos vestibulares aos cursos de direito, de medicina e de engenharia, sem falar do ensino primário, em geral doméstico como prova a própria biografia de Alberto Sales, alfabetizado por seu pai.
Diante disso, é fácil imaginar qual teria sido o impacto que Alberto Sales sofrera, aos 18 anos de idade, quando chegou