Alberto Sales, ideólogo da República

preferindo antes, ainda que se informando sobre a filosofia ocidental, manipular temas próprios mas não exclusivos, isto se explica pelo fato de se debruçar - e filosofar - sobre a realidade brasileira, a exemplo de Luís Pereira Barreto. Pois também para Alberto Sales a filosofia era o produto de uma necessidade: encaminhada para o universal, não podia, porém, cortar suas raízes do temporal, circunstancial e histórico. Daí o positivismo ter-se constituído, para os homens da Ilustração Brasileira, num instrumental teórico que permitisse ao Brasil ingressar na constelação dos países progressistas.

Esse "positivismo", contudo, em hipótese alguma foi ortodoxamente comteano nem se vinculou ao apostolado de Miguel Lemos e Teixeira Mendes. E a razão disso estava no fato, observado por Ivan Lins, "que muitos de seus adeptos mais dignos de admiração e estima extremaram-se e, por vezes, deixaram-se arrastar a excessos de zelo, num estado de exaltação que os alienava das realidades sociais e políticas do seu meio e do seu tempo"(2). Nota do Autor Informa ainda o historiador do positivismo no Brasil: "Espelho da grandeza e das vicissitudes do Apostolado é o texto dos seus Estatutos, onde, ao lado de inequívoca elevação, figuram cláusulas incompatíveis com os seus próprios objetivos e de todo inconciliáveis com a situação real do meio brasileiro. Apresentando a ascética austeridade e a rigidez das ordens monásticas, os Estatutos da Igreja e Apostolado Positivista do Brasil isolavam do mundo os seus sequazes e transformavam o seu grêmio num grande cenóbio, ao qual só faltaram as margens do Nilo para que nele fosse revivido, em sua plenitude, o ambiente dos primeiros séculos cristãos"(3). Nota do Autor Desta maneira, as normas estatutárias do apostolado positivista ergueram, "desde logo, como não podia deixar de ser, uma barreira quase intransponível entre o Apostolado e o meio social brasileiro, pois contêm cláusulas incompatíveis com os seus próprios objetivos e transformam o seu grêmio numa nova Tebaida, constituindo o que se poderia chamar positivismo utópico"(4). Nota do Autor Dai dizer Euclides da Cunha, em seu discurso de posse na Academia Brasileira de Letras, que o apostolado "arregimentou-se em torno de um filósofo, e afastou-se. Ninguém"

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