"(doutrinadores, propagandistas, idealistas, publicistas etc.) - podem ser enquadrados, mui legitimamente, dentro da grande categoria dos "homens marginais" (marginal men), da classificação de Park. Porque - como o tipo de Park - vivem todos eles entre duas "culturas": uma, a do seu povo, que lhes forma o subconsciente coletivo; outra, a europeia ou norte-americana, que lhes dá as ideias, as diretrizes do pensamento, os paradigmas constitucionais, os critérios do julgamento político"(17). Nota do Autor Para Oliveira Viana, "este desapreço à realidade circunstante - revelada pela observação - e à realidade experimental - revelada pela história - deriva do "marginalismo" característico das nossas elites políticas e dos nossos publicistas e legisladores. Eles como que estão ainda nesta fase da filosofia política em que o Estado é concebido como uma estrutura estranha à sociedade, ajustado a ela, vindo de cima, como que por direito divino - e não emanado dela, partilhando das suas condições materiais e de espírito, vivendo a vida da sua "cultura" e sofrendo a influência das suas transformações"(18). Nota do Autor Em suma, "são estes juristas e legisladores, de mentalidade "marginalista", os criadores e os técnicos daquela "política silogística", da ironia de Nabuco. São eles, realmente, os que fazem do grave problema da organização política do Brasil "uma pura arte de construção no vácuo"(19). Nota do Autor
Seria realmente assim? Seriam os nossos bacharéis responsáveis diretos por algumas de nossas deformações institucionais? Mergulhados no ambiente das academias, estes "bisonhos rapazes", de que fala Oliveira Viana, efetivamente se despiam do que neles havia de cunho nacional? O bacharel estaria de fato alheio aos problemas mais vitais da terra e do homem brasileiro, fechado numa visão livresca das realidades? A única resposta possível a Oliveira Viana é que ele, para formular sua teoria do idealismo utópico, socorreu-se de José Ingenieros, enquanto foi buscar a categoria de "homem marginal" em Robert Park, isto é, valeu-se de formulações "exógenas" para explicar um fenômeno brasileiro. Foi precisamente o que fizeram os nossos idealistas utópicos e os nossos marginalistas políticos. Por isso pôde dizer, com acerto, Roque