Alberto Sales, ideólogo da República

"pouco ou nada tinha a legar-nos, neste particular; mas não é esta, talvez, a explicação decisiva. Do contrário, como explicar que, importando da França as ideias e as escolas literárias, deixássemos de lado as doutrinas filosóficas (com a exceção - e bem sintomática - do positivismo)? A falta de "tradição", consequente à falta de herança especulativa, foi, sem dúvida, um fator importante para essa carência da nossa cultura; mas, por si só, não explica suficientemente o fenômeno. Um povo só acede à filosofia - e falamos em "aceder" à Filosofia num sentido criador, e não apenas como simples imitadores - depois de ter resolvido os problemas materiais (básicos) de sua existência histórica, e quando a relativa estabilidade das instituições coincide com um excepcional desenvolvimento das ciências e das artes. Só então, via de regra, existem condições de fermentação ideológica, propícias à especulação, porque só então - e isto se me afigura decisivo - a cultura se universaliza, a intelligentzia transcende o confinamento nacional para situar-se no orbe ou no ecumênico da cultura de sua época"(25). Nota do Autor Não era esse o caso do Brasil no tempo de Alberto Sales, mas foi essa a missão que se impôs a sua geração.

Quanto ao papel desempenhado pelas "academias superiores", são suficientes dois depoimentos de dois mestres de filosofia do Direito em São Paulo. O primeiro, de Pedro Lessa: "Apague-se a história das academias jurídicas do Brasil e a história da nação brasileira será um enigma. Entretanto, em torno dessas duas academias tem-se ouvido, nos últimos tempos, um surdo rumor de vozes adversas, que não poucas vezes se alteiam até se converterem em formais increpações e ameaças de extermínio"(26). Nota do Autor O segundo, de Miguel Reale: "A história do pensamento filosófico no Brasil, até época bem recente, não pode ser feita à margem das Faculdades de Direito de São Paulo ou do Recife, não só por terem sido os dois focos irradiadores por excelência das ideias universais no país, como pelo significado intrínseco do que nelas se ensinava"(27), Nota do Autor e que acrescenta, em nota ao pronunciamento de Pedro Lessa: "Só"

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