"mais o espírito positivo do que o positivismo; mais a atitude de reserva e de crítica que muitos assumiram, mesmo sem cuidarem especificamente de filosofia, do que a repetição dos ensinamentos de Haeckel ou de Spencer. Há muitos pontos ainda a esclarecer a propósito desse espírito positivo que animou a cultura brasileira a partir de 1870 e que foi bem mais relevante que o drama dos positivistas ortodoxos. Em verdade, sob certo prisma, Miguel Lemos e Teixeira Mendes representaram fatores negativos no movimento renovador das ideias, por terem querido seguir A. Comte até às suas últimas consequências, aceitando com admirável devoção as suas ideias sócio-religiosas: coube-lhes, assim, o papel paradoxal de continuadores da velha tradição dogmática e autoritária, embora sob a roupagem da revolução científica, enquanto que os adeptos do positivismo científico desempenhavam mais um papel de caráter crítico"(30). Nota do Autor Precisamente esse foi o papel desempenhado por Alberto Sales, impregnado de espírito positivo, sem nenhum dogmatismo, aberto e receptivo, aceitando ora Comte, ora Spencer, contrapondo-os, superando-os.
Claro está que Alberto Sales não foi um filósofo criador, pois para ele a filosofia era um "instrumento" de sua ação política e, para esta, primeiro Comte e depois Spencer propiciaram-lhe o instrumental necessário para a sua militância. Nem poderia ser diferente quando se sabe que só por exceção se deram no Brasil dos fins do século XIX as condições necessárias para o trabalho intelectual puro, dificilmente realizável num meio entregue quase por completo a ocupações de rendimento imediato. Divorciada do mundo teórico, a inteligência nacional teve que voltar-se para a vida da ação, arrastada irresistivelmente pela urgência de criar formas ou mecanismos sociais num país povoado pela pura natureza. Alberto Sales não se livrou deste destino, como a maioria dos intelectuais de sua geração, repartindo sua vida entre a política e as letras, impondo-se, porém, o pensador paulista, a tarefa de estabelecer vinculações entre ambas as esferas, de modo que sua obra doutrinária fosse fundamentação de sua ação política. Com Alberto Sales aparece pela primeira vez, nitidamente formulada, a ideia de que a República, que exigia uma fundamental mudança no regime de vida do país, clamava de maneira imperiosa,