Alberto Sales, ideólogo da República

"Coleridge chamou a "metapolítica" da França revolucionária, com um sem-número de constituições, inspiradas pela Razão, o fetiche que o espírito irreligioso da época colocara no lugar vago da divindade. Constituições natimortas, fruto de ideologias vãs, que infalivelmente se esvaneceriam ao primeiro sopro da realidade... Fora absurdo negar a importância do fator intelectual na elaboração política dos povos: o trabalho lógico dá forma, unidade, coerência às leis escritas. Mas a substância de toda organização jurídica se extrai de natural e lento processo evolutivo. É sobre essa matéria, tirada dos fatos, e não de vagas concepções imaginativas, que se exerce a função arquitetural do espírito, nos domínios do Direito"(5). Nota do Autor

Com efeito, o espírito positivista dominava o ambiente estudantino, porém seria um contrassenso e uma inverdade histórica filiar esse espírito ao positivismo chamado "ortodoxo", representado no Brasil especialmente por Miguel Lemos e Teixeira Mendes, seus "apóstolos", que oficiaram na Igreja da Humanidade e que pertencem mais à história da religiosidade brasileira do que à história da filosofia no Brasil, propriamente dita. Quer dizer, o positivismo adotado pelos estudantes de Direito em São Paulo tinha como ponto de partida, evidentemente, a doutrina de Augusto Comte, que compreende não apenas uma teoria da ciência como também, e de maneira toda especial, uma reforma da sociedade e uma religião, mas enquanto uns o entendiam como uma doutrina do saber, outros o viam como uma norma para a sociedade, e outros, finalmente, uma regra de vida para o homem. Por isso um Santos Werneck, por exemplo, podia declarar-se, ao mesmo tempo, positivista e monarquista, sem causar nenhum escândalo. Em seu O positivismo na Academia escreve: "Monarquistas e republicanos; todos, positivistas, trabalhamos pela evolução; e a evolução ensina que a forma política não é barreira para a impetuosidade de sua marcha e que a monarquia no Brasil é ainda uma resultante do estado social dos espíritos, ainda os mais cultos. Portanto, sustentemos a monarquia, porque a sua oportunidade é científica"(6). Nota do Autor E mais adiante: "Nós, os monarquistas históricos, não nos reduzimos à inércia,"

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