A pesquisa histórica no Brasil

viver para poder fazer história, escreve Marx.(32) Nota do Autor A primeira realidade histórica (conjunto de fatos, atos, acontecimentos), acrescenta, é, portanto, a produção dos meios que satisfaçam às necessidades da vida. A produção da própria vida material constitui, na realidade, um fato histórico, uma condição fundamental de toda a história, que devemos, hoje, como há milhares de anos, executar dia a dia, hora a hora, simplesmente para manter vivos os homens. Observar este fato fundamental é, portanto, a primeira exigência de qualquer concepção histórica. A segunda condição do fato histórico é que ele seja capaz de satisfazer as necessidades novas. Estes dois momentos(33) Nota do Autor não são simultâneos, mas coexistem e, logicamente, se contrariam.

As ideias de Marx não se opõem, na caracterização do fato histórico, aos princípios da eficácia histórica, que veio de Hegel e se definiu em Rickert e Meyer. A diferença fundamental consiste na naturalização, no realismo do conceito, que se economiza.

Há ainda outro elemento que nos ajuda a individualizar o processo histórico: ele pode ser pessoal ou impessoal, ele se personaliza ou despersonaliza, ele é um fato, um evento, um sucesso, um acontecimento, ou uma ação, um feito, uma façanha. A personalização da história conduz à biografia, e a história do Brasil, por exemplo, tem sido uma suma biográfica desde o período colonial aos nossos dias.(34) Nota do Autor

Na historiografia brasileira predomina a busca pelo fato pessoal, a ação pessoal e seus efeitos positivos ou negativos. A impersonalidade do fato não significa que nele próprio não se contenha a decisão da liderança ou da minoria dominante, como a de um grupo, uma classe, e não individualmente. Meyer valorizou a responsabilidade na história, na tentativa de descobrir os motivos que levaram as personagens a tomar suas decisões. O ato histórico da personalidade, apesar de todas as circunstâncias externas, é criado livre e responsavelmente, e seguindo esta mesma base do livre arbítrio defende o acaso, que seria uma série causal estranha que interfere, transtornando o processo regular causal. O acaso poderia desempenhar um papel importante na vida histórica, exemplificado com atentados frustrados, ou acertados, com mortes de líderes no começo da carreira, enfim, com vários fatos fortuitos.(35) Nota do Autor

Daí desenvolve uma teoria do fato histórico negativo, por mais paradoxal que possa parecer a expressão. Trata-se do caso em que

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