um acontecimento deixa de produzir-se, conforme podia esperar-se em face da marcha das coisas humanas, e sua ausência traz consequências positivas importantes. Supõe uma época em que se não produz uma personagem importante, embora houvesse premente necessidade dela, e cita exemplos na história universal como a da morte prematura de Alexandre, ou a esterilidade do matrimônio de Filipe II da Espanha e Maria da Inglaterra. Para exemplificar, no Brasil, seria um fato histórico negativo que Rui Barbosa não tivesse sido presidente, ou que Jânio Quadros renunciasse?
Há ainda a considerar o pseudofato, o pseudoacontecimento, inventados sob a aparência da verdade, para falsificar o processo histórico, ou desviá-lo do seu curso normal. A história do Brasil está cheia deles, uns nascidos de falsas legendas, outros criados em documentos infidedignos. Seus efeitos são depressivos e servem para alterar o curso histórico, o progresso, a vitória contra os privilégios. Pseudoatos, pseudopersonalidades, tão indiferentes à função criadora da História quanto a roupa que vestiam, enchem a História, são biografados, quando deviam ser eliminados dos quadros sintético-interpretativos.
4. Fato e complexo de fatos
Nenhum fato ou ato histórico existe isolado; eles aparecem sempre no conjunto do processo histórico. Podem ser vistos e examinados isoladamente, mas funcionam em relações estruturadas, articulam-se com todos os componentes da realidade, conformam-se ao todo do sistema real. A grande descoberta de Marx consistiu em estabelecer as relações funcionais entre a estrutura e a superestrutura da realidade histórica. Há, assim, uma relação real e vivida entre todos os atos e fatos, embora tenham sido estudados separadamente por interesse didático, desconhecimento científico ou malícia ideológica. As relações descobrem-se na própria pesquisa, quando o historiador está preparado para a sua tarefa, ou quando não pretende senão esgotar-se nos meros fatos despidos de significação.
Além disso há construções conceituais, que são conjuntos de fatos relacionados e funcionais, que constituem um fato complexo. Assim, por exemplo, quando falamos em feudalismo, descobrimento, renascimento, capitalismo, barroco, socialismo, imperialismo, bandeirismo, ou quando relacionamos o capitalismo e o calvinismo, estamos tratando de um conjunto de fatos significativos que já foram definidos.
Outros conceitos ideais podem levar-nos ao exame histórico de outros conjuntos factuais significativos e relacionados, formando um complexo. Estes complexos de elementos associados na realidade histórica formam uma individualidade histórica, unida numa definição