menos avisados, talvez, puderam duvidar do espírito religioso do paulista. É que as procissões comportavam tudo: demonstração de luxo, ostentação de poderio econômico com o séquito de escravos, a animação das "inúmeras quitandeiras" com seus tabuleiros à cabeça, oferecendo doces e cuscuz de bagre, bagre apanhado no rio Tietê, para os lados do bairro do Pari.
Um aspecto interessante da crônica das igrejas de São Paulo e de suas antigas aldeias, a de Carapicuíba, a de São Miguel e a do Embu, é o da precariedade da construção dos templos. Precariedade que se pode estender às construções em geral dos séculos que antecederam, na colônia e depois na província, o advento da monocultura do café, criadora de uma economia capaz de fornecer bases seguras ao desenvolvimento da cidade e de outros setores. Precariedade, bem entendido, nesse sentido de material de pedra, porque a taipa também é durável, capaz de atravessar séculos desde que conservada e evitadas as infiltrações de umidade. Isto explica, de maneira geral, o uso dos beirais nas casas e construções da época e em muitas igrejas. Principalmente em muitas igrejas que ainda hoje podem testemunhar uma técnica de construção de tempos recuados.
O uso da taipa durou séculos, porventura inaugurada na vila pelo jesuíta Afonso Brás, que lhe conhecia a técnica, e com cujo suor, escreveria José de Anchieta, e dos mais irmãos, foi feita a igreja nova de São Paulo de Piratininga. Em Artes e Ofícios dos Jesuítas no Brasil o historiador Serafim Leite reúne curiosos elementos sobre as virtudes artesanais do padre Afonso Brás. Em 1560, baseando-se na informação de Anchieta, vê-se que Afonso Brás ajudou a fazer as casas de taipa de Piratininga "com incomensurável trabalho" para os índios catecúmenos. E mais ainda orientou construções nas aldeias circunvizinhas de São Paulo, em São Vicente e, mais tarde, no Espírito Santo e no Rio de Janeiro.
A taipa subsistiu mesmo (depois do ciclo do apresamento) durante o ciclo do muar, tão bem estudado por Alfredo Ellis Júnior num interessantíssimo trabalho sobre a economia paulista