Igrejas de São Paulo. Introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade

do século XVIII, que se desenvolveu paralelamente ao ciclo do açúcar, criador de cidades no interior do Estado. De modo que esta situação haveria de se refletir no espírito da comunidade paulista, no seu modo de vida em termos de casa, no seu modo de crença em termos de religião. A luta constante com o meio áspero, luta que procurava definir uma economia capaz de proporcionar lazeres e euforia construtivos, um estilo de vida, afinal, impediu o paulista de aperfeiçoar a técnica de construção, improvisando tudo: a casa, a igreja, o caminho, os meios de subsistência. Aperfeiçoamento, por isso mesmo, que nunca veio, como em certas regiões do Nordeste do país.

São Paulo foi, até a monocultura do café, uma cidade pobre e o mais rico dos paulistas, pelos séculos afora, era um pobre diabo de conforto em termos de casa. Principalmente em termos de casa, cujas reminiscências, raras assim mesmo, espantam como é que um Afonso Sardinha tenha sido um homem rico. Que ficou desse Creso do século XVI senão a tradição de exportador de marmelada? Que ficou de Guilherme Pompeu de Almeida? Apenas o mito da fortuna, como que algo tivesse impedido a comunhão maior com a terra. São Paulo nos séculos XVI, XVII, XVIII e até metade do século XIX foi uma cidade construída, para usar a linguagem bíblica, sobre areia. Nada durava, tudo se improvisava, a terra como que resistindo à teimosia do conquistador, no início, do desbravador, ao depois, e do morador, no final. Não houve uma base econômica de espírito gregário. Alcântara Machado observou que entre os povoadores não havia "representantes das grandes casas peninsulares, nem da burguesia dinheirosa". Os moradores, adverte-nos o autor de Vida e Morte do Bandeirante, "são homens do campo, mercadores de recursos limitados, artífices, aventureiros de toda a casta", que estiveram durante séculos a zanzar pelo planalto na luta contra o meio pela sobrevivência e fixação de uma economia estável. Economia idêntica à do Nordeste, cuja euforia se retratou no sistema patriarcal, na casa-grande e depois no sobrado, segundo se apreende desses admiráveis ensaios de Gilberto Freyre. Euforia retratada nas construções das igrejas de pedra, na

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