de uma arquitetura duradoura, a não ser na expresso da taipa, de que são exemplos milagrosamente conservados da sanha do homem e do tempo as igrejas de São Miguel, de Carapicuíba e do Embu. Neste particular recorda-se que em 1839 Kidder já assinalava que em São Paulo "alguns edifícios são de pedra, entretanto o material, geralmente empregado na construção de casas, é a terra que, depois de levemente molhada, pode constituir sólida parede". E adiantava que "as casas da cidade são geralmente de dois pavimentos, dotadas de sacadas que às vezes levam rótulas. As sacadas são os lugares prediletos, tanto dos homens como das mulheres que aí vão gozar do frescor da manhã e da noite ou assistir à passagem de procissões ou ainda qualquer ocorrência que desperte atenção". De modo que, do ponto de vista geral, esses fatos parecem explicar a razão por que de São Paulo quatro vezes secular, arquitetonicamente, nada tenha ficado e nada tenha sido construído em pedra.
Mas nem por isso, contudo, diante dessa pobreza - para cujo remédio, aliás, iam os paulistas para o sertão - deixaram as igrejas paulistanas de cuidar do seu burgo, conforme veremos ao longo deste ensaio e ao longo de épocas diferentes. Não só cuidaram as igrejas da alma dos paulistas, mas também de sua cidade, como os franciscanos preocupados com o fornecimento de água para a vizinhança do seu convento, quase todas as ordens preocupadas com o abastecimento, com o artesanato, com a abertura de ruas, com as condições de habitação, com jardins, nomes de ruas e bairros. Criou-se um complexo de interesses que se acha perfeitamente refletido nos documentos oficiais, como as Atas da Câmara, as Ordens Régias, o Registro Geral da Câmara, nos Livros de Tombo de diversas igrejas, na correspondência dos capitães-generais que governaram São Paulo. É exemplo desse complexo o interesse da Câmara pelas ruas da cidade. A Câmara chegava mesmo a mandar consertar ruas para as procissões passarem: "mandaram ao procurador mandasse fazer um reparo no buracão do Carmo em forma que pudesse passar a procissão do Triumpho". Para as festividades de Corpus Christi, o mesmo cuidado, conforme se vê da sessão da Câmara em que se determinou