Igrejas de São Paulo. Introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade

que pertencia ao Círculo Operário do Ipiranga, construído sobre um barranco, pedindo, pela sua posição, para ser ermida e tocar sinos às tardes.

O dominicano comprou o velho armazém e o terreno, fiado nas esmolas dos seus fiéis. Adquiriu-o sem dinheiro, crédito que lhe foi aberto sem dúvida alguma. E tratou das obras. O frade adaptou o armazém, construiu a torrezinha deliciosa que lá está e chamou pintores e escultores para a decoração interior. Eles atenderam ao chamado de frei João Batista e durante meses trabalharam com seus pincéis e seus cinzéis, erguendo com a ajuda material de alguns fiéis e amigos da arte também uma obra-prima de simplicidade e beleza.

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A igreja do Cristo Operário penetrou no coração dos trabalhadores da vila Brasílio Machado, no Alto Ipiranga, porque ele mesmo, o Cristo, despiu-se das suas fabulosas auréolas para tornar-se, no interior da igrejinha, um simples operário, um companheiro e um camarada com quem após um dia de trabalho se pode trocar olhares de compreensão e de ternura. E exclamar, banhado de satisfação: que bom! Um operário cercado quase de contingências humanas, tal a expressão do seu rosto no altar-mor. Aliás, a propósito deste altar, escreveu o crítico de artes plásticas, Valter Zanini, "que se despoja de qualquer outra função a não ser aquela que lhe é específica; o espaço livre e aberto para o público". E por aquele rosto, de tão profundas repercussões, lá vão os trabalhadores para os ofícios religiosos, quando o são, e simplesmente para vê-lo e trocar aqueles olhares, quando não o são.

Obedecendo estritamente aos preceitos litúrgicos, decorada com uma arte primitiva, onde a ingenuidade e a simplicidade se casam maravilhosamente, a igreja do Cristo Operário humaniza o reino do céu e mais ainda aquele carpinteiro da Galiléia. E por isso é amplamente entendida e sentida pelas suas ovelhas que residem na vila Brasílio Machado. A igrejinha tem o espírito do aprisco e mora nessa identidade a sua completa integração entre os operários do Alto Ipiranga.

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