Igrejas de São Paulo. Introdução ao estudo dos templos mais característicos de São Paulo nas suas relações com a crônica da cidade

não trazendo aquela beleza das igrejas baianas e mineiras, ainda assim se revelam arquitetonicamente mais fiel espelho da cidade, como a igreja de Nossa Senhora do Brasil, a do Carmo, a comovente igreja do Cristo Operário, a enorme catedral. Mas aquele ar de provisório que pudemos destacar nos templos paulistanos, cujos valores arquitetônicos são positivos apenas nos templos das aldeias (São Miguel, Embu, Carapicuíba), guarda muitas vezes uma crônica secular e curiosa, interessantíssima pelo que revela em suas relações com a cidade, fato aliás que procuramos ressaltar nas igrejas que estudamos.

As velhas igrejas de São Paulo guardam ciosamente o espírito apressado da cidade, que veio crescendo desordenadamente da humilde igrejinha dos jesuítas no Pátio do Colégio até os arranha-céus de hoje. Nossos antepassados não tiveram os vagares, a paciência e o sentimento artístico dos baianos e mineiros. Os paulistas destes vários séculos transcorridos caracterizavam-se pela ação e objetividade, valores negativos do ponto de vista artístico. Gente rude, de ânimo forte, com rompantes de independência que faziam tremer até os reis, viveu sempre em luta contra o meio hostil no sentido de adaptar os valores culturais de uma civilização de ultramar. Luta que obteve a sua primeira vitória com o advento dos mamelucos, magnífico produto dos primeiros povoadores portugueses e espanhóis com o elemento indígena. Resultante humana que andou batendo pelos sertões adentro, desafiando o mistério verde das selvas, o mistério líquido dos rios, o mistério dos monstros que habitavam aquele interior desconhecido e a imaginação supersticiosa do índio e do português. Daí nasceu o Brasil.

O ar transitório e provisório dos nossos templos parece que constituiu, justamente, a sua maior força. Daí partia o interesse do governo pela conservação das igrejas, a Câmara vivia baixando posturas sobre sinos, nomeando fabriqueiros, ajudando reparações, dando terras para constituição de patrimônio, prestigiando procissões, prestigiando os bispos. Patrocinando as grandes festas religiosas, como a de São Sebastião, a de Corpus Christi, a de São Bórgia e a de Santa Catarina.

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