Teoria da História do Brasil. Introdução metodológica - T1

inicial teve que sofrer, naturalmente, o embate das dificuldades da prática e aqui e ali houve supressões, acréscimos ou cortes. A configuração da obra apresentava-se particularmente difícil, em face da seriedade da matéria, da vastidão da bibliografia, da variedade da doutrina. Seria uma estultícia pretender esgotar o assunto ou defini-lo precisamente. O trabalho devia ser, antes, uma simples introdução à história e à pesquisa histórica no Brasil, e, por isso mesmo, um guia, um roteiro de problemas, processos, crítica e teoria.

Não é necessário mostrar aqui a necessidade de preparar o encontro pessoal, quase sempre árduo, do estudante ou estudioso com o fato puro, nu e cru. Ensinar num plano universitário os fatos sem a teoria seria o mesmo que limitar-se, nos cursos jurídicos, a ministrar a lei e os códigos sem a teoria e a interpretação. Portanto, o valor de uma exposição do método histórico aplicado ao Brasil torna-se evidente, pelo simples fato de que nada existe sobre a matéria na historiografia de língua portuguesa.

Na história, como em qualquer ciência, os progressos referentes ao esclarecimento conceitual, teórico e metódico são tão necessários quanto os relativos ao conhecimento mesmo dos fatos. Se, por outro lado, devemos justamente admitir a pluralidade de métodos científicos, então é necessário conhecer o método próprio, peculiar, específico da história. O método aqui exposto aplica-se especialmente à história concreta, mas, de um modo geral, adapta-se a todas as ciências que têm por ideal o conhecimento histórico, ou sejam, a economia, o direito, a geografia humana, a sociologia, a antropologia, a literatura, porque todas usam o método histórico, ao contrário das ciências matemáticas, físico-naturais, outro grupo de conhecimentos.

Raríssimos serão os países mais cultos que não tenham várias obras dedicadas à metodologia histórica, de tão necessária inclusão no currículo das universidades. Obras clássicas são as de Bernheim, na Alemanha, a de Langlois e Seignobos, na França, a de Garcia Villada, na Espanha, a de Lappo Danilevsky, na Rússia, a de Hockett, nos Estados Unidos. Na América, também a Argentina possui o curso de Metodologia em suas universidades, embora disponha de obras importantes sobre o assunto. No Brasil, onde o apetite pela história é tão grande e tantos são os que a ela se dedicam, seria urgente e indispensável a inauguração de um curso universitário dessa natureza. O que já se fez em direito e em filosofia, com a cadeira de Introdução, dever-se-ia fazer com a história.

Os livros clássicos citados obedecem de regra a planos inteiramente diferentes. Se alguns, como Langlois e Seignobos, se limitam exclusivamente aos problemas de heurística e das ciências auxiliares e da crítica interna e externa, outros, como Bernheim,

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