Diz Troeltsch que a relatividade histórica tem certa analogia com a doutrina da relatividade física, que hoje preocupa todo mundo com seu problematismo tão intricado. Não se trata de fato ocasional e sem fundamento, se bem que a primeira se tenha formado desde o romantismo e desde o realismo histórico, sem relação alguma com a segunda. A razão íntima deste encontro está em que a relatividade física é aquela forma de individualismo que é decisiva, no terreno das ciências físicas, a saber, a particularidade de observação de cada vez; daí a necessidade de construir-se e calcular-se sempre de novo o sistema das relações(17). Nota do Autor
Mas se as teorias interpretativas dependem da concepção do mundo e se esta é sempre historicamente condicionada, isto é, limitada e relativa, como esclareceu Dilthey, então cada uma delas expressa, nos limites do nosso pensamento, um aspecto, um lado do Universo. Deste modo, cada uma é verdadeira e unilateral. Consoladoramente, podemos venerar em cada uma das concepções do mundo a parte de verdade que elas contêm(18). Nota do Autor É por isso que as teorias são sempre insatisfatórias, servem sempre parcialmente e são sempre abandonadas. Daí a relatividade das teorias, o relativismo histórico e, consequentemente, a necessidade de reescrever a história. Daí também a força quase absoluta do texto na elaboração histórica e seu permanente valor, apesar da degradação duns e da ascensão de outros, da variabilidade constante do sentido de suas minúcias e importâncias.
O texto permanece, a teoria passa; o texto é revisto e interrogado segundo os novos ideais. Daí o finca-pé que o historiador faz no respeito e tratamento do texto, que é o único permanente na mudança contínua. A variabilidade das opiniões interpretativas e a firmeza do texto, eis os dois polos do trabalho histórico. Mas, para distinguir as sombras e obscuridades as teorias são indispensáveis.