O candomblé da Bahia: rito Nagô

ligado a uma ideologia? E qual a sociedade que não constitui sistema de intercâmbios?

Pelo estudo dos candomblés, fomos em todo caso levados a ver na religião africana, tal qual se manteve na Bahia e no Brasil em geral, não apenas simples comunicações mas um conjunto de trocas, de cooperações. O babalorixá necessita do babalaô, do Olosaim, dos Oge. A iniciação de uma filha de santo exige, além do babalorixá, o adivinho que lerá nos búzios o nome da divindade, o coletor das ervas que irá buscá-las no mato, a "mãe pequena" que lhe dará os banhos. Todo ritual é manipulação de forças sagradas, mas não é qualquer um que pode se meter a manipular. Assim como a personalidade humana se forma gradualmente por meio da divinização, também as divindades não podem existir senão sob condição de receber alimentos, sangue, infusões de ervas, oferecidas pelos fiéis. Como os compartimentos da realidade, os diversos sacerdócios estão separados, mas são ao mesmo tempo complementares e interdependentes.

Não negamos, no entanto, a força constrangedora da tradição; porém em nossa sociedade a razão não age também no interior de uma tradição? E se a tradição não parece constrangedora é muito simplesmente porque estamos dentro dela. O africano da Bahia também não sente as coerções (só começa a senti-las na medida em que se separa de seu meio, em que aceita outros valores, quando se torna "marginal" em suma); mesmo o transe, aparecendo brutal, é tanto um apelo quanto uma imposição, antes homenagem do que coerção.

Os mitos são representações coletivas, sem dúvida, e que possuem toda a força constrangedora das tradições; mas constituem também mecanismos de operação lógica para apreender o real. Assim também os ritos, que além

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