Anchieta

um escritor com a sua responsabilidade pudesse contentar-se com imitações exóticas, no momento em que esse gênero literário abriu falência nos países de origem. Tivesse ou não Strachey aparecido na Inglaterra com a renovação literária da biografia; e tivesse, ou não, o sr. André Maurois se tornado o profeta da religião em que o outro é Alá, e, estou certo, o sr. Celso Vieira teria escrito, da mesma forma, este seu livro. Escrevê-lo-ia porque é modalidade específica do seu talento animar com um alto sopro de beleza os motivos mais áridos, e porque nunca lhe saiu da pena trecho de prosa em que não pusesse, como Flaubert, o seu cérebro, a sua carne e o seu sangue.

(...)

Esteta por temperamento, nutriu sempre o sr. Celso Vieira horror irreprimível ao escândalo e, mesmo, à nomeada merecida. Escrevendo belas coisas desde 1900, só em 1918 nos deu o seu primeiro livro, Endimião, cujo título é toda uma confidência de artista. À semelhança do neto de Júpiter, dormia ele o sono do seu silêncio na asperidão do seu monte Látmos, onde a glória, nova Diana, debalde o namorava. Em 1919 dava-nos ele O Semeador, atirando nas urzes agressivas da nossa planície literária punhados de belas ideias. Em 1923 publicava um excelente estudo sobre Varnhagen. E, como consequência, tirando de um assunto inspiração para outro, este belo volume sobre Anchieta, aparecido em 1929 e, já hoje, em segunda edição.

O primeiro espanto de quem examina a vida e a atividade do sr. Celso Vieira consiste na tranquilidade de que ele as cerca. Numa época e num ambiente propícios ao cabotinismo, em que os candidatos à glória despem os loureiros das suas folhas para tecerem clandestinamente

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