Anchieta

às próprias coroas, ou se agridem na praça pública para as arrancarem uns à cabeça dos outros, ele é o trabalhador sem pressa, consciente do seu valor, e pago do próprio esforço com a íntima alegria de tê-lo feito. Conta Fabre, relatando as suas experiência de entomologista, ter aprisionado, certo dia, dois efipígeros, a que deu destino diverso: um em lugar escuro, e outro sujeito à claridade. Este durou apenas quatro dias; o outro viveu cinco. E o naturalista explica: o que ficou sob a ação direta e constante da luz consumiu dia e noite a energia orgânica em movimentos desnecessários, ao passo que o outro a reservou, prudente, para a própria conservação. O sr. Celso Vieira compreendeu cedo essa verdade, isto é, a inconveniência de consumir-se na conquista de uma popularidade vã. "Triunfar tarde não é triunfar: é atingir ao mesmo tempo a imortalidade e a morte", — pensava Disraeli adolescente. Mas a glória é um peso grande demais para que o homem o carregue toda a vida, quando começa a carregá-lo cedo. O homem de letras, que se tornou popular aos 20 anos, pertence, já, ao passado, quando atinge os 40. A boa glória é, pois, essa, que a sua prudência e os seus talentos lhe conquistaram. O seu nome não foi escrito na areia, como os versos de Anchieta; mas gravado na pedra, como o dístico do farol de Rodes, zombando permanentemente da impertinência do sol, da força das águas e da marítima inconstância dos ventos.

"O que me interessa mais vivamente no sr. Celso Vieira, — escrevia eu há 12 anos quando ao aparecimento de Endimião; — o que me interessa mais vivamente no sr. Celso Vieira não é a soma de ideal que ele põe nesse livro: é o escritor mesmo, na complexidade dos seus recursos". E no mesmo artigo: "Um escritor estudioso não tem, jamais, uma feição definitiva. Definir-se

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