de ação. Durante quatro séculos, o missionário foi o centro do culto discreto, formado em torno das ingênuas e sinceras narrativas dos cronistas, que recolheram para a glória da Companhia os feitos e as lendas daquela vida de esforço, de beleza e de fé. Mas, com a obra de Celso Vieira. Anchieta ressurge como primeiro marco dominador a assinalar, com as linhas austeras do seu perfil de asceta, o ponto de partida do ciclo da brasilidade.
Era tempo de ser feita, como o destino permitiu, por mão de mestre, essa ressurreição do apóstolo e reconstrução do apostolado. As origens da nossa história são pobres de tipos dignos de ocupar peanhas de uma galeria carlyleana de heróis. Somente mais tarde, os vultos robustos dos aventureiros paulistas nos proporcionam, com um Fernão Dias, homens capazes de agitar a imaginação com o sopro rijo da epopeia. Mas, até à eclosão das Bandeiras, a formação embrionária da nacionalidade prossegue na mediocridade de personagens secundários. Entre eles, o jesuíta da Nivaria Insula ergue-se em uma preeminência quase super-humana, como as geleiras invernais do seu pico natal acima da topografia do arquipélago canário. E o estudo de Anchieta não interessa apenas pelas proporções da sua grandeza em relação ao meio, onde viveu e agiu. O catequista é ainda, e por outros motivos, a mais forte e fascinadora figura exponencial da obra criadora, que o gênio da Europa, ainda flambado pelo batismo de fogo da Renascença, veio realizar, imprimindo os valores da cultura mediterrânea na matéria plástica da selvageria americana. Assim, a personalidade de Anchieta parece-me tornar-se a magnífica altitude da qual podemos apreender, em uma visão panorâmica, as linhas imensas de um dos mais empolgantes momentos históricos.