No belo livro de Celso Vieira reaparecem, com a intensidade dramática de uma evocação, as batalhas travadas em terras do Brasil pelos legionários de Calvino e de Loiola, na disputa fremente de uma supremacia antártica. Essa é a significação mais profundamente interessante do papel de Anchieta no lançamento dos alicerces da nossa nacionalidade. Muito mais que a ação frágil dos donatários das capitanias e do governo-geral estabelecido mais tarde na Bahia, a combatividade religiosa do jesuíta contribuiu para o insucesso das incursões exóticas, que, entre os anos da década de 50 do século XVI e a expulsão definitiva dos holandeses do Nordeste, quase cem anos mais tarde, tentaram arrancar o Brasil ao círculo da influência mediterrânea.
No desempenho do papel histórico, que o destino lhe preparara, Anchieta sobrepuja todos os outros protagonistas desse drama de incalculável alcance nos destinos do Brasil, por uma extraordinária combinação da força propulsora do idealismo místico e de notáveis aptidões práticas e executivas. No grande missionário transparecem a mentalidade e a fisionomia moral dos paladinos da teocracia, formados na escola de Loiola e na disciplina de Calvino. O apóstolo do Brasil lembra, em alguns traços característicos da sua personalidade, as figuras representativas do puritanismo, dos fundadores da Nova Inglaterra e dos grandes caudilhos parlamentares da luta contra os Stuarts. É o mesmo conceito da síntese do poder político e da autoridade religiosa, em que parece sobreviver a mentalidade bíblica dos juízes de Israel. O homem de quem Celso Vieira nos conta tantos feitos demonstrativos de energia organizadora, de aptidão de comando, de agilidade diplomática e de sabedoria política é o mesmo iluminado, que atravessa o oceano impregnado do ardor místico do autor da Epístola aos Hebreus, inabalável