Só para converter os grandes pecadores, empregava-se o nobre de Espanha como servo, principalmente nas horas de enfermidade, suportando as injúrias mais aviltantes, o peso dos maiores fardos, enquanto não trazia novas almas aos pés de Jesus. As flagelações do catequista ensanguentavam as pedras da cidade, mesmo diante da porta do governador, e nas aldeias, conforme a lenda, ruíam os tetos em cinza, violentamente incendiados, se lhe não era ouvido o conselho. Em sangue e fogo, destarte, relampeja nas trevas do nosso primeiro século a efígie de Aspilcueta Navarro.
Pouco mais de cinco anos durou na colônia a fulguração dessa vida apostólica. Mandado por Nóbrega nos fins de 1553, o padre Navarro incorporou-se à expedição do castelhano Bruxa de Espinhoso, que se aventurava pelos sertões da Bahia à cata de ouro. "Eles vão a buscar ouro — escreve Anchieta, — e ele (o padre) vai a buscar tesouro de almas, que naquelas partes há mais copioso..."(181) Nota do Autor. Os brancos da expedição eram 12, afeitos à língua dos naturais e ao trato das selvas, acompanhados por muitos índios. Jornadeando pelos sertões, ano e meio, os expedicionários venceram quase 350 léguas, desde Porto Seguro, através de serranias fragosas, rios sem conta, planícies que semelhavam pomares, terras pluviais, sombreadas de árvores corpulentas, juazeiros sempre moços, no verdor luzidio e eterno da sua fronde. Dormiam ao relento, sob as estrelas; sangravam-se de