Anchieta

esmoler, Cristovão Paes. A derradeira profecia, em Vitória, foi a da entrada de um navio com o trigo e o vinho, que faltavam aos moradores, até aos sacerdotes para o holocausto da missa.

Enfim, chegando à Vitória o novo superior, Pedro Soares, voltou Anchieta a Reritiba pela última vez. No adeus carinhoso a João Soares despediu-se do mundo: "Filho meu, ficai-vos; jamais nos comunicaremos nesta vida; ainda que vós me haveis de tornar a ver neste mesmo sítio, será em tempo que vos não poderei falar."

O seu regresso à aldeia foi celebrado pelo choro dos índios, cujas lamentações ecoam na dor e no prazer com a mesma retumbância. Durou-lhe três semanas, então, a vida bruxuleante, ainda sorridente à própria agonia, sem um queixume. Tanto podia nele o amor inefável do próximo, que uma noite se ergueu do leito, espectralmente; seguiu até à cozinha, trôpego e tateante, para aviar o remédio a outro enfermo. Os últimos passos noturnos do santo eram de caridade cristã. Exânime e frio, ele caiu de repente no chão, como um lírio desfeito por uma rajada. Foi para a cela em braços, pediu com ansiedade o Viático. Cinco sacerdotes oravam, ajoelhados à cabeceira. E na algidez crescente de todo o corpo a agonia quieta e suave do bem-aventurado era como um celeste murmúrio, em que se exalavam com a própria vida os nomes de Jesus e de Maria. Assim expirou Joseph de Anchieta num domingo, nove de junho de 1597, com 63 anos de idade, sendo 46 de religião, e destes 44 vividos apostolicamente no Brasil.

* * *

Um brado repercutiria, propagando-se a notícia, desde o planalto brumoso aos sertões adustos. Os lamentos

Anchieta - Página 405 - Thumb Visualização
Formato
Texto