as próprias flores teológicas dos Santos Padres da Igreja, lhe desabotoassem no culto de Maria, à sombra dos loureiros clássicos de Roma.
Em paráfrases, reminiscências, variantes moduladas pelo seu estro, sob a guarda feroz dos tamoios de Iperoig, lacrimejam as fontes bíblicas, rumorejam as fontes pagãs, umas e outras inesgotáveis, borbulhando aos pés de Nossa Senhora. Virgílio e Ovídio, Tibulo e Propércio, como David e Salomão, o Eclesiastes e os profetas, S. Paulo, S. Agostinho, S. Bernardo, S. Boaventura, toda uma legião de poetas, e sábios, e santos, os magos e os mestres do seu espírito, perpassam com estrofes ou versículos, cânticos ou lamentos, epístolas ou reflexões, imagens ou ideias, fecundando-lhe a Musa. Diríamos que a vetusta sabedoria das Escrituras, latinizada, reveste o manto de púrpura e cinge o ramo de louro do classicismo.
Imperfeito o plano, excessivo o ornato, quase monótono o desdobramento dos estados de consciência, fulgura o poema, entretanto, nos melhores trechos, quer pelos dons estilísticos de clareza, elegância e harmonia, quer pela humanidade empolgante dos valores subjetivos. Se através da cadência e da correção o humanista é admirável, na profundeza das suas revelações o asceta é comovedor. Elementos de tragédia e lirismo, de poesia e paixão, vislumbrados por Southey, dominam a espaços os demais, lendários ou descritivos.
Com a veemência dos seus afetos, das suas inclinações, amando os castos, os crentes, os pobres, maldizendo os ímpios da Antiguidade e os heréticos da Reforma, a idolatria sensual e a tirania orgulhosa, identificamos, então, a Psique anchietana. De onde em onde, intercala-se à narrativa um solilóquio. E a vida interior, destacando-se dos episódios, recompõe o mundo