Anchieta

secreto em que se deplora ou se desvenda a alma de um anacoreta nas suas inquietações e nos seus contrastes.

Atormentado pela concupiscência, dominadora dos mais fortes, como S. Jerônimo no deserto, Anchieta personaliza a tentação universal. Por vezes, longamente, recordando as emoções, revivendo a insônia e a tortura das noites cálidas em que Eros inflamava os desejos à adolescência, chora a queda humana da alma, a perda humana da virgindade. Nada mais angustioso que esse remorso do homem no apóstolo das selvas, esse instante adamita do pecador no missionário. A castidade é o tormento e a esperança do seu coração, voltado para a fonte celeste, que o banha e purifica:

Tu mihi cor vivis purificabis aquis.

Une-se à contrição o amor filial do canarino exilado e órfão, desde os 13 ou 14 anos de idade sem pai, sem mãe, sem pátria, vagueando por terras alheias ou bárbaras, desprendido moralmente de todos os vínculos do sangue e do solo. O sentimento de abandono migratório, de ausência e expatriação do filho pródigo, geme nos versos cadenciados pelo metro das Elegias:

Et procul aufugiens, patrem matremque reliqui,

Offendens factis teque Deumque meis.


Distante do lar, terá ele na Virgem o novo carinho materno. Confidencia-lhe os erros, quando certos atos se afiguram delitos de réprobo, exageradamente, aos seus escrúpulos de noviço; defende-lhe o nome e o dogma, irado pelas blasfêmias de Helvidio e Calvino.

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