Anchieta

A hiperdulia reflorescendo em primavera, desde muito, abre-lhe o coração à presença vitoriosa do Bem, ainda que o Mal nos avassale e escureça os dias, ensanguente os berços, envenene os frutos da terra. Se o lavor do poema lhe é um refúgio à castidade, o culto da Mãe de Deus, visitadora dos enfermos, dos navegantes, dos presos, dos cativos nas suas algemas, dos moribundos na sua agonia, dos pecadores arrependidos, mas principalmente dos religiosos enclausurados, bafeja-lhe o Canto da Visitação, admirável trecho do poema. Nossa Senhora infunde-lhe a graça do amor materno com que o visitante de Iperoig, buscando em vão o martírio, adota e embala no seu degredo o marabá da tribo.

Então, uma das suas maiores tristezas naquelas paragens foi o destino sem a auréola de mártir, glória da eterna Bem-aventurança. Queria ele fazer da vida uma hóstia ao Senhor, e o exemplo do martirológio é que o impele, o arrebata em jornadas lacerantes, sombras de eclipse, duras penas de cativeiro, medindo os pressentimentos e sofrimentos da Virgem Mãe, até à cruz do Gólgota, aos cimos e aos versos dolorosos onde sangram dois corações — o de Jesus e o de Maria. Simbolicamente varado pelas mesmas lanças, a sofrer e a brilhar, vemos-lhe o coração de poeta nas estrofes, irradiando sob os mesmos espinhos.

Assim, o poema reflete e concentra, por vezes, não só as imagens, mas também os segredos e aspirações da grande Psique anchietana, que em Iperoig tanto desejou a morte concedida aos heróis, um final semelhante ao dos Irmãos Pedro Correa e João de Souza, trucidados pelos carijós.

À crítica literária não pertencem, mas evidentemente à prática religiosa, os cantos populares de Anchieta,

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