Anchieta

(6) Nota do Autor, uma inverdade por outra, como se lhe fora dado ensinar, tecnicamente, a um profissional do patíbulo, o que ele nunca aprendera. E o caso tomou proporções de fábula monstruosa no livro do Sr. Arthur Heulhard — Villegagnon, Roi d'Amerique, pág. 171: "Anchieta conseguira extorquir a Boulier uma confissão católica. Falhando o golpe do carrasco, Boulier impacienta-se, vai blasfemar. Anchieta, receoso de perder uma alma, toma a espada (!), e manejando ou ferindo, não o sabemos, diz ao carrasco: "É assim que se faz". Anchieta decapitador de Bolés ou Boulier, entre os historiadores franceses, eis a consequência do erro inicial de Sebastião Beretário. Converteu-se o próprio laço da forca em fio de espada.

Mau grado a evidência resultante de contestações e documentos, subsiste a inverdade, três e meio séculos depois, na órbita dos estudos mais sérios. João Francisco Lisboa, divulgando-a, exclama nos Apontamentos para a História do Maranhão: "...abominável fanatismo que assim perverte e transforma um missionário sublime em miserável ajuda do algoz!" (Obras completas. vol. II, pág. 400) Antônio Henrique Leal, autor de uma História dos jesuítas no Brasil, escreve "Uma vez logrado este intento foi o pobre Bolés relaxado ao braço secular. Não era porém perito o algoz e fazia sofrer o paciente. O padre Anchieta, que se doía deste erro de ofício, passou a ensinar ao inexperiente carrasco como devia manobrar". E a professora Carlota Carvalho, ainda em 1924, no seu livro O Sertão, pág. 104, citando Henrique Leal e João Ribeiro, lança mais um doesto à memória do santo: "De uma só vez Joseph de Anchieta, que "a apologia venal" qualificou "o apóstolo do gentio", praticou duas infâmias e a pior foi o

Anchieta - Página 426 - Thumb Visualização
Formato
Texto