Anchieta é a personificação de toda a gloriosa milícia no Brasil. Desde os seus dias até os nossos tempos vem-lhe a figura sendo desenhada, antes de tudo, pelo seu próprio testemunho, pelos grandes lances da sua legenda, depois pelo testemunho dos seus próprios irmãos, pelo dos cronistas estranhos à ordem, pelo dos biógrafos, pela coerência de todos os historiadores, em admirável unanimidade, onde não se encontraria a mais vaga reserva acerca do mínimo detalhe sequer de vida tão extraordinária.
É assim que veio avultando na consciência da posteridade, até fixar-se em nossa história, num perfeito relevo.
Agora (com que ufania escrevo estas palavras!) veio o artista que devia esculpir-lhe a estátua. Reunindo toda a justiça, toda a veneração e o entusiasmo de quatro séculos, projetou-os num monumento, de cujas proporções ressalta, nítida e brilhante, toda a grandeza do Apóstolo.
Não é menos do que isso o que acaba de fazer Celso Vieira no livro com que, da sua vida de silêncio recluso, de meditação e discreto labor, nos surpreende no meio destes tumultos em que anda o mundo.
Este largo estudo Anchieta é na verdade tão integral como história, tão perfeito como arte, tão sábio como obra de pensamento, e tão sereno e decisivo como sentença de juiz, que é preciso seja lido mais de uma vez para que se logre, do conceito histórico, uma impressão distinta; pois o fulgor da forma chega a fascinar de tal modo o espírito do leitor que este há — de, em primeira leitura, sacrificar alguma coisa da inteligência do texto.
Como adverte o autor nas poucas linhas preliminares, os seus predecessores têm cuidado mais do taumaturgo que do apóstolo, do poeta e do herói; e explica que, aproximando-se o quarto centenário do natalício de Anchieta,