Anchieta

aproveita o ensejo de, fora do domínio das lendas, dar uma vida do apóstolo em síntese documentada.

Aliás, nem por isso, excluiu de todo a parte lendária. Nem poderia fazê-lo.

Numa vida como esta, que é toda de maravilhas, a lenda completa a história, e é por ela que a história entra na imaginativa popular.

O que é essencial é sentir-se que o autor faz, com efeito, mais história propriamente que apologética.

E é nessa altura que ele põe caráter magistral em todo o trabalho.

Revela-se ainda Celso Vieira um grande pintor da natureza. As suas descrições parece que são mais vivas que as próprias paisagens...

Vêm depois os grandes lances do nosso drama: a fundação do Colégio S. Paulo; a vida do apóstolo, na capela, na escola, na floresta; o martírio de Pedro Correa, talvez o maior milagre da Companhia no Brasil; a epopeia de Iperoig; a capital do sul etc.

A psicologia de Anchieta ainda adolescente é inimitável.

Uma parte nova na legenda do taumaturgo é a em que se refere a Anchieta como orador. É de lamentar que se não possam coligir-lhe os sermões.

Em quase todo o texto, intercala o autor grande número de episódios, anedotas, lendas e milagres.

Quando faz a síntese do homem, dá-nos um pobrezinho de Assis parece que ainda maior do que aquela outra maravilha.

Em suma: não é possível sugerir ideia desta obra sem escrever outro volume. A meu ver, o livro de Celso Vieira aparece já clássico.

ROCHA POMBO

(Correio da Manhã, 26 dezembro 1929)

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