O rei do Brasil: vida de D. João VI

de Montpensier, como a lhe apressar o fim, a morte libertadora, suprimiram-no muito cedo. Fernando VI, filho de mãe tuberculosa e pai neuropático, "le sexe anulait tout en lui" (disse Michelet), amou tão absorventemente a esposa, Maria Barbara de Portugal, irmã de D. José I, que não soube sobreviver-lhe. Acabou de enlouquecer com a notícia dos atentados sofridos, em Paris e Lisboa, por Luiz XV e pelo cunhado. Gemia: "Stilletata di quà pistolettata di là, ed io in mezzo..." Farinelli, de começo, sossegara-lhe a turbação íntima, a melancolia incurável que se agravava, na casa de Espanha, em razão da apatia desconsolada, de uma tanatofilia herdada aos Austrias, do predomínio das rainhas sobre os maridos virtuosos, extremamente maridos, dos tormentos morais, chamas vivas que os frades sopravam, e os abrasavam de escrupulosos cruéis. Mariana Vitória parecia-se com Carlos III, o mais equilibrado, o mais varonil, o mais ativo dos Bourbons do Escurial. Era beata, modesta, cavaleira, caçadora, porém veementemente castelhana, ciosa do governo do paço, e do esposo, a quem fazia espiar, odiando-lhe as amantes, perdendo-as - e muito amiga do irmão. Mas a predisposição à loucura, que se declarou na Sra. D. Maria desde os verdes anos, com a saúde frágil e uma invencível timidez, não lhe proviera apenas dos avós e tios de Espanha. Mariana d'Austria, mulher de D. João V, levara a Portugal, com o prognatismo habsbúrgico, a intolerância religiosa das princesas nascidas em horas trágicas, educadas

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