O rei do Brasil: vida de D. João VI

espírito enfermo. Equilibrava-o e dirigia-o. Enquanto viveu, o misticismo de D. Maria foi lúcido e calmo; morto frei Inácio de S. Caetano, ela endoideceu sem remédio. Devia governar assim. E governou.

D. João, o segundo filho, não se parecia com o primogênito, o predileto do avô, o príncipe desejado do marquês de Pombal. D. José era esbelto, ágil, insubmisso. Sebastião José de Carvalho e Melo vislumbrara-lhe, na impaciência infantil, um traço de gênio. Sonhara com a realeza para ele. Mas uma realeza plasmada pela sua política antifeudal, antijesuítica e antibritânica: por um forte, novo Portugal, que não o da regência de D. Mariana, sonambúlico e fútil. O problema do reino consistia na sucessão del rei José. O advento de D. Maria seria o fim de Pombal; o de D. José II, a sua reabilitação. O marquês olhava aquele menino com uma ternura interesseira: lograra ser grande ministro de um rei fraco; mas, no futuro, um forte rei prescindiria de ministros fracos. D. José era a anunciada aurora; afinal subiria ao trono um príncipe educado para reinar. Apenas Pombal precipitou o jogo, e perdeu-o. A partida foi arriscada. Tratava-se de decretar a lei sálica, deserdando D. Maria, em favor do filho mais velho. Um projeto inteligentemente urdido: punha-se de lado a princesa, a apaziguar a consciência no seu oratório de Queluz, com o marido inválido ao pé - e passava-se o título de príncipe do Brasil ao menino vivo e belo que Pombal instruía no seu

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