O rei do Brasil: vida de D. João VI

aquele título falso: Imperador, do Império que fundara. Sim; fundara-o ele. Com a sua intuição - fugindo a Junot; com o seu trabalho - e a sua fé. Tornara-se independente porque lá deixara, à sua sorte, o Brasil. Talvez algum frade lhe lembrasse, como Petrarca, o caso de Syphax, rei de Numídia, solicitado de romanos e púnicos: foi o seu caso... Pudera ser rei apenas da América; renunciara tacitamente, em proveito do herdeiro, voltando à Europa. Tudo se passara como imaginara, vendo claro, vendo profundamente: agora D. Pedro lhe mandara com o tratado de paz, com dois milhões de oiro, devolvida por uma gentileza filial, a coroa de imperador. Amava o seu rapaz estroina e heroico. A família produzira um forte. Sem a dobrez manhosa do infante, cujos vivos olhos espanhóis se iluminavam de ideias torvas - bandeado com os "apostólicos", impelido pela mãe, emparelhado com os lacaios e os desordeiros. D. Pedro tinha a brutalidade e a elegância de um rei romântico. Confortava-o, em Mafra, esse pensamento: o Brasil era um Império e seu filho o imperador... Falou-se vagamente do desejo que acariciava de voltar. "No café do Nicola, o procurador Paiva afirmava estar decidida a partida do rei para o Brasil, e a vinda de D. Miguel para governar o reino."

A saúde, de resto, arruinara-se-lhe, desde aquela confusa manhã de fevereiro, no Rio, quando o povo se atrelara ao coche puxando-o, em triunfo, pelas ruas tomadas de sediciosos. Os

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