O rei do Brasil: vida de D. João VI

acontecimentos de Portugal, tantas emoções sobrevindas, a felonia, a humilhação, a erisipela, o inverno, os diplomatas, abreviavam os seus dias, matavam-no. 1824, 1826 pareciam-se com 1793, 1795. Circulavam no ar eletricidades terríveis. O chão ardia, dos fogos subterrâneos; as classes separavam-se; a conspiração rastilhava. A ala tradicionalista girava à roda da varanda de mármore de Queluz em cuja matinha sempre-verde um dia aparecera morto, moído de sacos de areia, emborcado na lama, o útil Tessalonica. Ali, descabelada, seca, ramalhando rosários, com duas escarcelas cheias de relíquias, a rainha e imperatriz Carlota Joaquina enredava com os marqueses, escrevia ao irmão de Espanha, entretinha os parceiros do infante, caluniava o marido, insultava o filho "brasileiro" e juramentava a não morrer sem enforcar a corja "malhada". A revolta, com os ventos frios da serra, rebojava do continente. Os pasquins anunciavam: "O menino não tarda por aí..." Fora do reino, as nações espiavam enternecidas a maquinação da castelhana.

Napoleão morrera; deus dispéptico e intoxicado, no presídio. Carlos IV escondera na Itália as suas humilhações e Murat fora arcabuzado. A família de Bonaparte dispersara-se, levando em baús os remanescentes da fortuna e os satélites de Cesar serviam, com as librés do passado, aos homens que vingaram o duque d'Enghien. E ele, como se os cataclismos não o atingissem, lá continuara, em Mafra, rei até o fim...

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