O rei do Brasil: vida de D. João VI

De algum modo poderia repetir La Fayette: "J'ai vaincu le roi d'Angleterre dans sa puissance, le roi de France dans son autorité, et le peuple dans sa fureur".

Vencera até aí com o ardil, a pachorra, a temperança, enganando, protelando, dividindo, sem que lhe abandonasse a felicidade - como as pernas, que já de pouco lhe valiam, e o coração, que começava a cansar-se.

O imperador José II mandara gravar na sepultura a confissão de ter fracassado sempre. E fora um ilustre monarca, a quem os filósofos louvaram com respeito. Poderia dizer que zombara da fatalidade. E tinha sido um rei ridículo...

Armand Dayot conta que Luiz XVIII moribundo dissera ao conde d'Artois: "Fiz rodeios sem conta à volta dos partidos, como Henrique IV; mas levo-lhe vantagens, porque morro na minha cama nas Tulherias". Também ia morrer no seu leito da Bemposta!

Que lhe pesava! O século já não era mais o seu século. Estalavam os vigamentos da Europa, e os tronos, restabelecidos, abalavam-se. A luta, entre o que vinha dos velhos tempos e o que a revolução criara, avançava sobre Portugal, tempestade que podia renovar, como uma chuva, ou afogar, como um dilúvio. De toda parte levantavam-se da mesa da política, fechando os velhos cartapácios, os teólogos e os legitimistas. Findara-lhes a tarefa. O povo substituía-os.

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