O rei do Brasil: vida de D. João VI

seguiram, visivelmente epilépticos, mas podendo rematar por uma apoplexia" - segundo o embaixador inglês, que correra a escrever a Canning lembravam os efeitos de um veneno progressivo sobre um organismo senil.

As síncopes, repetidas, alarmaram a corte. Encheu-se o paço da Bemposta de cortesãos, de clérigos, de diplomatas, de aflitos liberais (que seria deles depois de morto o rei?) Aquilo dava em uremia, - aventavam uns; terminaria em congestão, como acontecera aos reis seus antecessores, prognosticavam outros. Na noite de 5 recebeu a extrema-unção. A "visita da saúde" foi na manhã de 6. Despertou desoprimido, reclamando os ministros, querendo pôr em ordem as cousas do Estado. O patriarca de Lisboa e o núncio, impelidos pela infanta Isabel Maria, roída de terrores devotos, pediram-lhe que in extremis se reconciliasse com a rainha. Não se opôs. Também não adiantou perdões hipócritas. Assentiu brandamente. O patriarca, com a púrpura pregueando ao vento, partiu da berlinda para Queluz, a chamar Carlota Joaquina, que o recebeu em pranto, queixou-se da sua fraqueza de peito e concluiu por dizer que não ia de medo à viagem de carro. Os ossos desconjuntar-lhe-iam aos solavancos do trem... Recaiu D. João a 9, e para não mais recobrar os sentidos. Finou-se, sem sofrimento, rodeado das filhas e dos criados, no meio de um silêncio atento, entre doutores perplexos, por não terem nunca atinado com a moléstia, e os antigos servidores rosnando maldições

O rei do Brasil: vida de D. João VI - Página 320 - Thumb Visualização
Formato
Texto