J.-B. DEBRET
A vinda do pintor francês Jean-Baptiste Debret ao Brasil encontra-se estreitamente ligada aos prodigiosos sucessos que sacudiram o mundo no fim do século XVIII e começo do XIX. Naquele universo tumultuoso, injunções pessoais e políticas moveram-no a aceitar, depois da derrota dos exércitos franceses, convite para dirigir curso de pintura no Rio de Janeiro. Sangrava-lhe o coração de bonapartista, ansioso por se afastar do espetáculo dos Bourbons recolocados no trono pelos vencedores do ídolo, e, ao pôr os pés em terra sob o trópico, depararia com outra manifestação dos acontecimentos, na mudança de uma corte fugida pouco antes da Europa para não ser aprisionada pelo corso.
Surgira a realeza bragantina no seu maior domínio ainda por desbravar, com ministros, áulicos, diplomatas estrangeiros, repartições administrativas, criadagem, arquivos, bibliotecas, parasitas e mais pertences, em que sequer faltavam os evirati da ópera e da capela real. Representava ao vivo aquela migração resultado do escarcéu que agitara o Ocidente, destruidor de tronos e formas políticas, substituídas por novas ideias e classes dirigentes. Amargurado pelo que se passava em torno de si, almejava Debret estabelecer-se longe dos que, de volta ao poder, personificavam - assim pensava - regime odioso, retrógrado, avesso aos bonapartistas e demolidor das glórias do império.
Nessa altura, recebeu oferta de ir à Rússia ou ao Rio de Janeiro. Preferiu a segunda por inúmeros motivos. No seu entender, Portugal era menos culpado do que o Tzar na luta da Europa contra Napoleão. Segundo, talvez o atemorizasse o inverno moscovita, do qual os elementos da Grande Armée escapados de extermínio narravam episódios espantosos. Terceiro, concebia o Brasil como o imaginavam no boulevard, ou seja, região de multiforme pitoresco, recoberta de floresta virgem, cortada por rios