Jean-Baptiste Debret

prodigiosos, habitada por índios e fauna incontável e, acima de tudo, possuidora de imensas riquezas à disposição de quem quisesse explorá-las.

Encontraria, à chegada, uma surpresa, ou melhor, várias, boas e más. Nem todas antevisões se verificariam no paraíso decantado por Parny, descrito por Raynal, objeto de planos de Dumouriez e citações de Bernardin de Saint-Pierre, mas ia-se estabelecer, entre ele e os súditos brasileiros da lusa monarquia, elo comum suscitado pelo mesmo anseio de liberdade. Aderira Debret à Revolução em 1792 contagiado pela exaltação de artistas e intelectuais da classe burguesa, pelas mesmas razões de rebeldia que assoberbavam os antigos coloniais fartos da opressão de metrópoles.

Neste sentido, imaginava o artista que do lado do Atlântico respiraria em ambiente por completo diverso daquele que em Paris se lhe tornara intolerável, especialmente ao ver o malogro dos esforços dos franceses na realização de sonhos libertários. As maiores causas outras se juntavam, de caráter íntimo, a concorrer para a viagem, se bem ele continuasse a considerar-se melhor francês do que os aderentes ao regime reconstituído pelos vencedores de Bonaparte. No Brasil encontrava situação algo semelhante. Tinham sido os coloniais vergados até a chegada da corte sob férreo regime colonialista, muito diferente do que se entende por colonização. Impunham-lhes produzir unicamente para soberano ungido pelo Senhor, dono das coisas e das gentes, condição definida e definitiva, que a ninguém era permitido desobedecer. Não tardaram, entretanto, no evoluir da colônia, a despontar rebates de inconformismo em continuação aos ensaios ocorridos no século XVIII sob efeito de notícias da independência norte-americana, como sucedeu na Conjuração Mineira, fadada de antemão a insucesso, ou na entrevista de estudante brasileiro na França com Jefferson, enviado dos Estados Unidos à corte de Luís XVI. Mais significativas, no caso, eram as amargas queixas de comerciantes cariocas a estrangeiros de passagem pelo Rio a respeito da compressão econômica exercida pela metrópole. Ainda assim, tudo reunido pouca influência teria nos destinos da colônia, não fossem a Revolução Francesa e campanhas napoleônicas, assoladoras da Europa, destruidoras de princípios, doutrinas e tronos, a disseminar pelas armas, medo ou entusiasmo princípios revolucionários, cujos ecos e efeitos chegavam até a América do Sul.

Extremo fora o alvoroço do maior domínio luso ao abrigar a corte que o transformaria em Estado soberano. Jamais teriam concebido súditos afeitos a se haverem com representantes do longínquo

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