Jean-Baptiste Debret

pertencia ao conluio armado para libertá-lo dos ingleses. Morava desde 1817 na Guanabara, estabelecido como fazendeiro de café na Tijuca, onde recebeu a visita de mercenários alemães a serviço de D. Pedro I, os quais deixaram curiosa descrição do estranho personagem. Não era, entretanto, o único a lembrar o corso nas vizinhanças de São Cristóvão e Terreiro do Paço. Apareceu na rua do Ouvidor dama que se dizia filha do general Pichegru, seguida de outra ainda mais enigmática, pelo menos quanto à sua presença no Brasil, certa Mme de Ranchoup, que fora amante de Napoleão durante a campanha do Egito. Lá mesmo se divorciara do marido Mr. Fourier, oficial do exército, que recebera do corso vultosa quantia à guisa de consolo pelo destrato conjugal, e um belo dia surgiu na rua do Ouvidor escoltada por capitão ou coronel da ex-Guarda, de nome Bellard. A aventura não passou despercebida à duquesa de Abrantes, que estranhou a viagem. Defendeu-se Mme de Ranchoup - provavelmente temerosa de complicações com as polícias do Rio e de Paris - dos reparos de Mme Junot, sob a alegação de que o imperador no exílio perdera os atrativos que possuía em Alexandria e não mais a interessava. Outro aventureiro, de nome Cailhé, também se inculcava antigo oficial da Grande Armée, dono da batota no Rio de Janeiro, muito bem visto, escutado e amparado - assegurava - pela polícia carioca. O filho mais velho de N. A. Taunay fora autêntico oficial das armas imperiais, participante de suas campanhas, condecorado com a Legião de Honra por feitos de guerra, autor de grave incidente político em Paris, determinante da vinda da família ao Brasil. Com a mesma autenticidade eram os d'Escragnolle, Mallet, Labatut, Beaurepaire, e muitos mais, passados a exemplo de Carlos Augusto Maria a serviço de D. Pedro I. Pertenciam à oficialidade do Império, que depois de Warterloo se espalhou pelo mundo, como Brandzen na Argentina ou os demi-soldes dos Champs d'Asile nos Estados Unidos.

Sequer faltava na lista dos emigrantes, juntamente com cozinheiros, dançarinos e cabeleireiros, o mestre-cuca mais tarde hoteleiro Pharoux, chegado em 1817, antigo soldado da Grande Armée; Antoine Chevalier, também restaurador, e o foliculário Huet Perdoux, pretendente a diretor da Biblioteca Real, denunciado pelo cônsul Maler como perigoso indivíduo, muito capaz de servir-se daquela repartição para inundar o Brasil de panfletos subversivos. Pintores como Pallière, chegado no séquito de D. Leopoldina, Auguste Borget, vindo pouco mais tarde, o arquiteto Bouch ou o miniaturista Grain, relacionado com os Taunay, também se agitaram

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